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domingo, 7 de abril de 2013

O Conto-do-Vigário - Fernando Pessoa



O Conto-do-Vigário, foi escrito por Fernando Pessoa, com prefácio de António Bagão Félix, leitura essencial face a conjuntura de crise por que estamos a passar ... como sendo mundial, e não apenas de Portugal, mas, uma crise de comportamentos.
De inflação desmesurada e institucionalizada de contos do vigário e de défices de justiça e de ética.


 

«Mudam-se os tempos, mudam-se os contos do vigário. Mas, no essencial, mantém-se aquilo que os define».
«Já passaram 80 anos desde que o Noticias ilustrado deu à estampa essa narrativa na vida do vigário.
Muito mudou, na circunstância, entenda-se. Os contos viraram euros, mas o conto ainda o é. Na essência.
E o senhor vigário, lavrador e ribatejano, de que nos fala Pessoa, metamorfoseou-se num ambiente de globalização e de exuberância tecnológica.
É claro que continua a haver o vigário doméstico ou local, numa métrica modestamente artesanal de enganar o parceiro. Mas a sofisticação da trapaça é agora universal, sem muros ou obstáculos.
 
Há os vigários prolixos e os vigários que passam entre os pingos da chuva. Seguramente todos nocivos. Há, também, os vigários políticos e eleitorais que prometem sem cumprir para crédulos e votantes sempre disponíveis para recair no conto-do- vigário.


A própria linguagem amaciou a técnica do vigário.
Não mente, limita-se a dizer inverdades,
Não tem conflito de interesses, antes está a tirar partido da sinergia.
Não comete burlas, o que enfrenta, coitado, são imparidades.
Não é aldrabão, assume-se como flexível.
Tacitamente individualista diz que não tem a ver com a vida dos outros, para que os outros o deixem à vontade na sua vida.
Para ele, os fins justificam, sem pestanejar, qualquer meio».

FERNANDO PESSOA, 1926, Ano I, n.º 1 de 30/10, Diário o Sol, “Um grande Português”