Existem profissões que pelas suas próprias
características exigem por parte dos trabalhadores certos cuidados de saúde,
segurança e higiene levantando-se a questão de se saber se o tempo gasto a
equipar (recolha do vestuário) ou a realização de outras operações
imprescindíveis à atividade laboral estão ou não, está no âmbito do conceito de
tempo de trabalho previsto no Código do Trabalho?
A resposta a está questão está na al. e) do n.º 2 do
artigo 197.º do CT/2009 que define tempo de trabalho como qualquer período
durante o qual o trabalhador exerce a atividade ou permanece adstrito à
realização da prestação, bem como as interrupções ou pausa no período de
trabalho imposta por normas de segurança e saúde no trabalho.
A redação dada ao n.º 1 do art. 197.º do CT
estabelece dois critérios para limitar o conceito de tempo de trabalho, a
saber: o exercício da atividade e a disponibilidade do trabalhador para o
trabalho, sendo que neste último o trabalhador permanece sob a autoridade do
empregador, ainda que inativo, (sem prestar a atividade principal) o que
significa que o tempo de trabalho não se reconduz apenas ao tempo da prestação
efetiva de funções.
Por seu turno, e com interesse termos o conceito do
tempo de trabalho para além do período normal de trabalho previsto na al. c) do
art. 8.º da L n.º 89/2009, de 04/09 – regime de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, que se transcreve: «Tempo de trabalho além do período normal de trabalho» é o que
precede o seu início, em atos de preparação ou com ele relacionados, e o que se
lhe segue, em atos também com ele relacionados, e ainda as interrupções normais
ou forçosas de trabalho».
Por sua vez, a al. e) do n.º 2 do art. 15.º da L n.º
102/2009 e sucessivas alterações, determina que cabe ao empregador « zelar, de forma continuada e permanente, pelo
exercício da atividade em condições de segurança e de saúde para o trabalhador,
tendo em conta os seguintes princípios gerais de prevenção, designadamente,
combate aos riscos na origem, por forma a eliminar ou reduzir a exposição e
aumentar os níveis de proteção».
Note-se que, estas situações não são subsumíveis
no n.º 3 do art. 203.º do CT, pois, não se tratam de situações excecionais que
possam integrar o tempo de tolerância.
Do acervo normativo exposto pode concluir-se que:
se os trabalhadores estão no local de trabalho a executar tarefas preparatórias
e finais impostas pela natureza da atividade que exercem, então esse tempo
gasto tem que ser contabilizado como período normal de trabalho.
Assim, salvo melhor opinião, o empregador nestas
situações tem uma de duas hipóteses: ou o trabalhador deixa de prestar a funções
para o qual foi contratado, antes da hora do termo da jornada diária
contabilizando-se o restante tempo afeto aos atos preparatórios e
completando-se a carga horária diária; ou, o trabalhador sai precisamente à
hora do termo da jornada diária, do seu posto de trabalho, sendo que o tempo
excedente gasto na execução dos atos preparatórios pago ao trabalhador como
trabalho suplementar.
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