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domingo, 4 de setembro de 2011

Em Odemira

A taxa de Suicido mantém-se  extremamente  elevada nestas últimas duas décadas.
A freguesia de Sabóia detém o maior número de casos de pessoas que resolveram por cobro à vida.
Trata-se de um fenómeno que não tem tido explicação por parte dos especialistas, nomeadamente psiquiatras  e médicos de saúde pública.
Por vezes, por entre a calçada cruzamos com um  testemunho que vincula à vida a família que já existiu.
Enforcados, ingestão de veneno, atirados para o poço,  são histórias de tragédia contadas na primeira pessoa, pintadas com a cor dos olhos que fixam o chão.
Nem as casas caiadas aliviam a dor de quem fica.
A resposta para este fenómeno, fica-se num encolher de ombros, de quem conta. A dor tem forma do vazio. O espaço de quem partiu: mais velhos e mais novos, - os netos.  
Quem conta, não vê miséria que levasse a tal comportamento. Resigna-se na maldição que entrou em casa, sem pedir autorização.
A vila portuguesa do Distrito de Beja entre Sines e Santiago do Cacém recebe o oceano Atlântico. Mas, nem assim!
 História repleta de sucessivas doações após ter recebido o foral  de D. Afonso III em 1256, Odemira sustentou-se à custa da agricultura, da pecuária e da actividade piscatória.
 Uma vida a preto e branco!
Hoje, virada para o turismo, o seu exterior mudou, tornando-se uma vila de lazer digna de sinalização no mapa de Portugal.
Mas, quem lá vai, nada sabe da sua história. Apenas procuram as ondas do Atlântico.
As ruas limpas que circunscrevem as  casas rasteiras e caiadas, escondem histórias individuais de que quem optou pelo suicídio:
De quem se auto diagnosticou – doença incurável…
De quem se cansou de coleccionar velharias, por ninguém as comprava…
De quem, sabe-se lá porquê…
Todos estes e muitos outros tinham:
O veneno para os escaravelhos;
A corda;
O 605 forte;
A caçadeira!
Nestes infortúnios, -  há quem entenda que:
- “Suicídios?
- Isto é gente com fraqueza de ideias!”
A explicação será que pode ser assim tão simples?
A taxa de suicídios é apurada tendo em conta um universo de cem mil habitantes. Por exemplo no norte do país, não se verificam os números tão trágicos.
Os especialistas adiantam como causa provável do fenómeno, o isolamento, a solidão e a pobreza. Mas, é legitimo observar que no norte do país há certamente, isolamento, pobreza e solidão.
Não se poderá dizer que actualmente, aquela zona do Baixo Alentejo esteja de costas virada para o mundo.
Será que não se deveria valorizar as características biológicas da população? (Dizem alguns entendidos que ao contrário das depressões comuns as depressões endógenas, dependem das características biológicas do indivíduo e não, com as circunstâncias da vida).
Seja como for, o fenómeno é de tal maneira preocupante que as entidades competentes têm incentivado projectos com a finalidade de prevenção do suicídio.
As equipas com intervenção em várias especialidades, a estudar o problema iniciaram o processo tendo um objectivo essencial – procurar as causas do problema. Para o efeito, recorreram a autópsia psicológica ( método que consta de um inquérito exaustivo aos familiares do suicida) utilizada nos EUA, na década de sessenta.
O estudo efectuado por via do método da autópsia psicologia levou a constatar que o universo de suicidas correspondia na sua grande maioria dos homens reformados com pensões muito baixas e completamente isolados. A observação não permitiu concluir que, as dificuldades económicas seriam factor decisivo para o fenómeno do suicídio, naquele conselho.
O verão termina, e os forasteiros regressam ficando a vila a mercê do peso do passado, e é nessa altura, que extintas as associações e clubes recreativos (enquanto estruturas sociais que agregavam pessoas dando-lhe vida) fica o caminho para a Igreja que sempre obriga a manter laços entre aqueles que lá nasceram e lá ficaram.
E numa voz sumida e quase que cantada há quem diga:
-“No tempo da aldeia, é sempre um bom pedacinho que se passa – ao domingo!”
Há quem se esforce a tirar a ideia do pensamento!
-“ Nove filhos. Mas, sem nenhum, ao pé de mim!”
Que bem está representada Odemira, na  Árvore da autoria de Aureliano Aguiar na rotunda do Lagar da Vila de Odemira!