Quando o inimigo
não existe, há que construí-lo. Relações laborais. Analogia.
Segundo Umberto
Eco, «Ter um inimigo é importante, não apenas para definir a nossa
identidade, mas também para arranjarmos um obstáculo em relação ao qual seja
medido o nosso sistema de valores, e para mostrar, no afronta-lo, o nosso
valor. Portanto quando o inimigo não existe, há que construí-lo».
Umberto Eco referia-se
as relações entre os Estados ou Nações.
Sem esforço é
possível fazer uma analogia entre as relações entre Estados e as relações laborais.
(É fazer as devidas adaptações entre o universo macro para o mico).
O autor
refere-se à «generosa flexibilidade em eleger-se um inimigo quem quer que não
pertencesse ao seu grupo, para se reconhecerem como grupo». Ora, não é
frequente que este tipo de situações ocorra nas organizações empresariais?
Quantas
situações de facto decorrem nas empresas que se traduzem na grande facilidade
de alguns elementos agregados em grupos, elegerem outros como inimigos, em
regra, quem não quer pertencer ao grupo gerador de forças para contento de um
ou dois, que lideram o processo de manipulação e até demonização do ambiente de
trabalho?
Não é um
processo complexo, aliás parece ser linear.
Para isso, basta
escolher alguém que por qualquer motivo não siga os movimentos de moda. Umberto
Eco afirma, «os inimigos são diferentes de nós e comportam-se segundo costumes que
não são os nossos».
E acrescenta: «Alguém
diferente é estrangeiro. Já nos baixos-relevos romanos os bárbaros aparecem
como barbudos e achatados, e a própria designação de bárbaros, como é sabido,
alude a um defeito de linguagem e, portanto, de pensamento».
Mas os inimigos
não são apenas aqueles que são diferentes, os bárbaros na palavra deste autor, são
também «aqueles que alguém tem interesse em representar como ameaçadores,
ainda que não nos ameacem diretamente, de modo que é tanto o seu carater
ameaçador que faz ressaltar neles a diferença mas é a diferença que se torna
sinal de carater ameaçador».
Voltando para a
dimensão dos Estados e Nações, «o inimigo não abrange apenas aquele que é de
fora, mas aquele que está dentro, entre nós – diríamos o imigrante extracomunitário».
Também o seio
das organizações se pode dizer que, o inimigo já não é apenas aquele que quer
entrar no mercado de emprego e que em entrevista mostrou ser «capaz» e que
criou a dúvida ao recrutador (se este candidato entrar eu terei futuro na
empresa?) como aquele que, já no seio da organização empresarial revela ser «capaz»
e por isso criou incertezas ao colega que começa a sentir-se ameaçado.
Identificando-se
o inimigo, o processo tem continuidade com a adjetivação como sendo: burro; feio; fétido até monstruoso.
Inicia-se de
seguia a estratificação dos indivíduos não por classes profissionais, carreiras
e categoria, mas pela perspetiva dos manipuladores.
O processo pode
chegar à perseguição. Os leprosos! (Estes são totalmente destruídos para não
propagar a peste).
Sempre há a hipótese
de se tornar o “patinho feio” que desprezados
pelos seus semelhantes se adequam à imagem que estes têm deles.
Melhor ainda,
tornar-se protagonista da história e divirta-se a procura da pedra preciosa: a
distinguir as pedras verdadeiras das falsas.
Umberto Eco afirma
que «O
inimigo não pode ser abolido dos processos civilizacionais. A necessidade é congénita
mesmo do homem brando e amigo da paz».
As transcrições indicadas são do autor Umberto Eco, Construir o Inimigo, escritos ocasionais.
As transcrições indicadas são do autor Umberto Eco, Construir o Inimigo, escritos ocasionais.