O Expresso apresenta um artigo - Reflexões sobre seis anos de gestão na administração pública, de Luís Meneses, que de forma simples e
clara, se pronuncia sobre os grandes problemas da gestão na Administração
Pública.
René Magritte
Quais os problemas essenciais na Gestão dos serviços
do Estado?
1.º «A crença num poder mágico da
legislação e, em geral, da palavra»;
2.º «A falta de confiança e de responsabilização
dos dirigentes»;
3.º «A falta de sentido de
urgência»;
4.º «A inexperiência, quando não
incompetência, na definição de objetivos»;
,5.º «A inexistência duma cultura
de melhoria da eficiência»;
6.ª «A falta duma cultura de
cooperação. - O "efeito de silo"»;
7.º «Uma gestão orçamental
ineficaz e obsoleta»;
8.º «Um conceito errado de
mobilidade»;
«Na cultura empresarial a mobilidade é
valorizada e os programas de treino dos quadros com maior potencial utilizam a
mobilidade interna como fator de desenvolvimento, das pessoas e da organização.
Cada pessoa nova num serviço traz consigo um capital de experiência e de
conhecimentos que de algum modo passa para esse serviço e para o seu património
de conhecimentos. Em troca, recebe desse serviço os conhecimentos e a
experiência aí acumulados. Por isso, nas empresas bem geridas, a mobilidade é,
em geral, reservada aos melhores. Na AP, como se viu nos últimos anos, a
mobilidade foi destinada aos "excedentes", quando não aos piores, e
portanto foi considerada como um estigma. O resultado foi ter-se liquidado o
que poderia ter sido um fator importantíssimo de desenvolvimento das pessoas e
de revitalização dos serviços»;
9.º «A desconfiança face ao
sector privado»;
10.º «A falta de competências de liderança»;
«No conceito
de Lao Tse, segundo o qual um líder é bom quando as pessoas mal notam que
existe, não tão bom quando apenas lhe obedecem e o elogiam, mau quando o
desprezam. De um bom líder, quando o trabalho está feito, os liderados dirão
"fomos nós que fizemos isto". Este tipo de liderança é praticamente
existente na AP, onde em geral os líderes se dividem entre os ausentes, que
endossam todas as responsabilidades para os seus superiores hierárquicos, e os
autoritários, que decidem sem consulta nem envolvimento dos seus subordinados».
René Magritte
Quanto ao que há de bom, temos,
segundo o autor do texto, o seguinte:
«Para não
terminar num tom sombrio, devo referir o que de mais importante está bem na AP,
permitindo que, apesar deste contexto, as organizações da AP sobrevivam e, em
muitos casos, melhorem o seu desempenho. E que é, segundo creio, o espírito de
missão e a noção de serviço público que existe em muitos funcionários públicos,
sobretudo nos que têm contacto direto com os cidadãos. Conheci, nestes seis
anos, muitos com uma dedicação ao trabalho inexcedível, bem para além do que
encontrei no sector privado. Embora, por vezes, sem a consciência de que
trabalhar muito não é tão importante como trabalhar bem. Encontrei também
muitos trabalhadores desinteressados, desmotivados, com muito baixa
produtividade.
É necessário estimular e premiar os
primeiros e mobilizar, reconverter ou dispensar os segundos. O que não se faz
com salários reduzidos igualmente para todos e prémios e promoções adiadas
"sine dia".
René Magritte
Uma
administração pública mais eficiente, com melhores resultados e menos custos, é
possível. Mas exige muita determinação e trabalho, muito trabalho».
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