O Conto-do-Vigário, foi escrito por Fernando
Pessoa, com prefácio de António Bagão Félix, leitura essencial face a conjuntura de crise por que estamos a
passar ... como sendo mundial, e não apenas de Portugal, mas, uma crise de comportamentos.
De inflação desmesurada
e institucionalizada de contos do vigário e de défices de justiça e de ética.
«Mudam-se
os tempos, mudam-se os contos do vigário. Mas, no essencial, mantém-se aquilo
que os define».
«Já
passaram 80 anos desde que o Noticias ilustrado deu à estampa essa narrativa na
vida do vigário.
Muito
mudou, na circunstância, entenda-se. Os contos viraram euros, mas o conto ainda
o é. Na essência.
E
o senhor vigário, lavrador e ribatejano, de que nos fala Pessoa,
metamorfoseou-se num ambiente de globalização e de exuberância tecnológica.
É
claro que continua a haver o vigário doméstico ou local, numa métrica
modestamente artesanal de enganar o parceiro. Mas a sofisticação da trapaça é
agora universal, sem muros ou obstáculos.
A
própria linguagem amaciou a técnica do vigário.
Não
mente, limita-se a dizer inverdades,
Não
tem conflito de interesses, antes está a tirar partido da sinergia.
Não
comete burlas, o que enfrenta, coitado, são imparidades.
Não
é aldrabão, assume-se como flexível.
Tacitamente
individualista diz que não tem a ver com a vida dos outros, para que os outros
o deixem à vontade na sua vida.
Para
ele, os fins justificam, sem pestanejar, qualquer meio».
FERNANDO
PESSOA, 1926, Ano I, n.º 1 de 30/10, Diário
o Sol, “Um grande Português”