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domingo, 9 de agosto de 2015
Meia jornada de trabalho. Administração Pública. Quid Juris?
A LTFP, aprovada
pela L n.º 35/2014, teve a primeira alteração com o aditamento do art. 114.º -
A, sob a epígrafe “Meio jornada” - L 84/2015, de 07/08.
Este normativo
vem a permitir que trabalhadores com vínculo na administração pública possam
exercer a sua atividade profissional em meia jornada, ou seja, se a jornada de
trabalho for 8 horas diárias, a trabalhador passa a exercer 4 horas diárias.
Ora, a meia
jornada consiste «na prestação de
trabalho num período reduzido em metade do período normal de trabalho a tempo
completo a que se refere o artigo 105.º, sem prejuízo da contagem integral do
tempo de serviço para efeito de antiguidade».
O n.º 1 do art.
114.º - A., têm desde já, uma vantagem em relação aqueles que trabalham a tempo
completo, é que em sede de tempo de contagem do tempo para efeitos de antiguidade,
não se verifica diferenciação. O tempo para efeitos de antiguidade é igual.
A lei estabelece um limite mínimo e não máximo
para que o trabalhador preste funções nesta modalidade de horário – não pode
ser inferior a um ano.
O seu n.º 3.,
reporta à retribuição a auferir pelo trabalhador naquelas circunstâncias, tal
como resulta do citado preceito, que se transcreve: «A opção pela modalidade de meia jornada implica a fixação do pagamento
de remuneração correspondente a 60 % do montante total auferido em regime de
prestação de trabalho em horário completo».
Ou seja, um
trabalhador que aufere a remuneração ilíquida de €1500.00 passa a auferir
€900.00.
Esta redução tem
efeitos significativos nos descontos obrigatórios impostos pela LOE2015, o que corresponde
a mais um benefício para o trabalhador em relação os restantes trabalhadores,
que não cumprem os requisitos previstos neste diploma.
O âmbito de
aplicação deste diploma é apenas para trabalhadores que têm vínculo laboral de
direito público, e que tenham:
a)
Tenham 55 anos ou mais à data em que for
requerida a modalidade de meia jornada e tenham netos com idade inferior a 12
anos;
b)
b) Tenham filhos menores de 12 anos ou,
independentemente da idade, com deficiência ou doença crónica.
Não se trata de
um direito absoluto, isto é, cabe à entidade empregadora decidir autorizar este
horário, afirmando a lei, apenas, que em caso de recusa deve esta fundamentar
por escrito as razões dessa recusa.
Este regime
entra em vigor a 07/09/2015.
Este regime veio
criar um novo distanciamento entre os trabalhadores vinculados ao abrigo do
direito público e o privado, já que, ao abrigo do Código do Trabalho, os
trabalhadores não beneficiam do regime de jornada contínua nem deste último
regime criado com este novo preceito.
O que parece ser
contrário à filosofia de convergência entre os regimes laborais privado e
público.
Além da crítica
anterior existe outra, que também merece atenção: qual o período de férias a
atribuir as pessoas que trabalham em regime de meia jornada?
Mantém-se a
lacuna legal que já existia e existe para o trabalhador em regime de trabalho a
tempo parcial.
Para estes e
aqueles trabalhadores o período de férias será igual ao de um trabalhador que
trabalhe a tempo completo.
Em nome do
regime da parentalidade cria-se um novo distanciamento dos dois regimes
laborais. Em nome da regime da parentalidade viola-se o princípio da igualdade,
- tratar igual o que é igual.
Qual o limite da
norma remissiva prevista na al. d) do n.º 1 do art. 4.º da LTFP?
Penso que este
normativo é bem-vindo desde que:
a)
fosse alterado no mesmo sentido o CT, no sentido
da previsão da mesma norma;
b)
que a par desta medida fosse implementado novas
formas de admissão de pessoal para colmatar as quatro horas diárias dos
trabalhadores que passam a estar ausentes do local de trabalho ao abrigo do deferimento
do pedido. (se não existisse trabalho de certeza que não teriam sido
contratados).
Finalizo com a
seguinte observação: o normativo não prevê um mecanismo de controlo por
entidade externa, como se verifica com o regime de trabalho a tempo parcial que
em caso de recusa, é obrigatório o Parecer não vinculativo da CITE.
domingo, 26 de julho de 2015
Segurança da menor no Ciberespaço. Decisão judicial.
O acórdão do Tribunal
de Évora recente decidiu pela proibição dos pais exporem fotos e informações de
filhos menores nas redes sociais.
«Todos estes textos normativos apontam para um perigo
sério e real adveniente da divulgação de fotografias e informações de menores nas redes sociais, suscetíveis de expor de forma severa e
indelével, a privacidade e a segurança dos jovens e das crianças, e que se fundamentam designadamente nos seguintes factos:
1. O exponencial crescimento das redes sociais nos últimos anos e a partilha de informação pessoal aí disponibilizada, sobretudo pelos adolescentes (gostos, locais que frequentam, escola, família, morada, números de telefone, endereço de correio eletrónico) suportam a antevisão de que os que desejam explorar sexualmente as crianças recolham grandes quantidades de informação disponível e selecionem os seus alvos para realização de crimes, utilizando para o efeito identidades fictícias e escondendo-se através do anonimato e do "amigo do amigo" que as redes sociais as podem oferecer.
2. Os mais jovens, movidos pela curiosidade, são especialmente vulneráveis e incautos (por inexperiência de vida), suscetíveis de serem facilmente atraídos para uma situação de exploração sexual, sem consciência do significado e consequências dos seus comportamentos. Efetivamente, perante menores pouco informados dos perigos existentes no Ciberespaço contrapõem-se redes internacionais de produtores, comerciantes e colecionadores de imagens de crianças com conteúdo sexual, muitas vezes ligados ao crime organizado».
Neste quadro a imposição aos pais do dever de «abster-se de divulgar fotografias ou informações que permitam identificar a filha nas redes sociais» mostra-se adequada e proporcional à salvaguarda do direito à reserva da intimidade da vida privada e da proteção dos dados pessoais e sobretudo da segurança da menor no Ciberespaço, face aos direito de liberdade de expressão e proibição da ingerência do Estado na vida privada dos cidadãos».
Suspensão do contrato de trabalho por impedimento prolongado respeitante ao trabalhador. Efeitos sobre as férias. Administração Pública.
A
Ln.º 35/2014, de 20/06 designada pela LTFP aproximou significativamente o
regime de férias da administração pública ao código do trabalho o que impõe uma
maior atenção a esse regime, já que estamos a decidir sobre direitos dos
trabalhadores.
Prevê
o n.º 1 do art. 278.º da LTFP que «Determina
a suspensão do vínculo de emprego público o impedimento temporário por facto
não imputável ao trabalhador que se prolongue por mais de um mês, nomeadamente
doença».
Por
sua vez, o n.º 2 do mesmo artigo estabelece que: «O vínculo de emprego público considera-se suspenso, mesmo antes de
decorrido o prazo de um mês, a partir do momento em que seja previsível que o
impedimento vai ter duração superior àquele prazo».
E ainda o seu n.º 4 estabelece que: «O impedimento temporário por facto imputável
ao trabalhador determina a suspensão do vínculo de emprego público nos casos
previstos na lei».
(Este
regime, já resultava da RCTFP revogada pela atual lei em vigor, ou seja, já
vigora desde 2009, o que no mínimo é estranho só agora a abundância de parecer
jurídicos sobre este regime aplicável à Administração Pública, e de certa forma
divergentes, nas suas conclusões).
Com
interesse nesta matéria, prevê o nº 1 do art. 129.º «No ano da suspensão do contrato por impedimento prolongado,
respeitante ao trabalhador, verificando-se a impossibilidade total ou parcial
do gozo do direito a férias já vencido, o trabalhador tem direito à
remuneração correspondente ao período de férias não gozado e respetivo subsídio».
E,
no seu n.º 2 que: «No ano da cessação do
impedimento prolongado o trabalhador tem direito a férias nos termos previstos
no artigo 127.º»,
Tal
como, no seu n.º 3 que: «No caso de sobrevir
o termo do ano civil antes de decorrido o prazo referido no número anterior ou
antes de gozado o direito a férias, pode o trabalhador usufruí-lo até 30 de
abril do ano civil subsequente».
Ora,
simplificando destes normativos temos que:
Caso
o trabalhador se veja impossibilitado de gozar as férias no ano em que se
vencem por suspensão do contrato de trabalho, têm a possibilidade de as gozar
no ano da cessação do impedimento, ou seja, no ano em que retomam funções.
A
duração das férias não segue o regime geral, isto é, a duração de férias não é
de 22 dias úteis, mas sim, dois dias por cada mês completo de trabalho, ou de
execução contratual.
Sobre
a necessidade do decurso de 6 meses de execução do contrato, tal como é exigido
no CT/009, para os trabalhadores vinculados ao abrigo do Código do Trabalho?
Penso
que é de exigir o decurso do prazo de 6 meses para que se possa vencer as
férias no ano da cessação do impedimento. Passa-se a explicar: o legislador
utilizou no n.º 3 do art. 129.º a seguinte nomenclatura: «No caso de sobrevir o termo do ano civil antes de decorrido o prazo
referido no número anterior».
Qual
o prazo que a lei refere no n.º 2?
O
n.º 2 do art. 129.º refere-se ao prazo estabelecido no art. 127.º que é «duração total do vínculo não atinja seis
meses».
Ora,
o prazo em questão é de 6 meses e respeita a duração total do vínculo.
O legislador
ao remeter para o único prazo previsto no ar. 127.º e estabelecendo que o
regime de férias em caso de suspensão tem o mesmo tratamento que se tem para os
trabalhadores que ficam vinculados por período inferior a 6 meses, pretende
fixar naqueles termos um requisito para o gozo de férias – decurso de seis
meses completos de exercício profissional.
sábado, 18 de julho de 2015
Depósito. Direito a indemnização?
«O depósito bancário configura um
contrato de depósito irregular, através do qual o depositante (proprietário) de
recursos monetários transfere para uma instituição bancária a propriedade dos
valores depositados para que esta, podendo usá-los e dispor deles, lhos
restitua quando para tal lhe for solicitado ou exigido.
A garantia de reembolso a cargo do Fundo
de Garantia de Depósitos abrange apenas os depósitos bancários, que nas
condições legais ou contratuais devam ser restituídos pela instituição de crédito
e que consistam em disponibilidades monetárias existentes numa conta, e os
fundos representados por certificados de depósito emitidos pela instituição de
crédito, ou seja, os depósitos bancários em sentido restrito, estando excluído
os saldos credores ou créditos que resultem de quaisquer operações de
investimento, - art.º 154.º e seguintes do Regime Geral das Instituições de
Crédito e Sociedades Financeiras (RGICSF)».
A decisão do Tribunal da
Relação de Lisboa refere-se ao investimento num instrumento financeiro
designado por – “ Descrição
Detalhada do Investimento, PIAP- Privado Investimento Alternativo Plus “. Nesse
investimento estava a menção de “garantia de capital : 100% na
maturidade”.
O que poderia induzir em
erro o investidor, já que, tal menção «não tem a virtualidade de convolar
o” investimento” num “depósito” porquanto como é consabido existem valores
mobiliários que têm igualmente essa garantia (por exemplo as obrigações
conferem regra geral ao seu titular o direito a exigir no seu vencimento a
importância correspondente ao seu valor nominal bem como juros fixos
intercalares, podendo mesmo conferir ao seu subscritor um prémio de emissão ou
um prémio de reembolsos».
O tribunal entendeu que a
constituição de investimentos denominados Piap 21 e Piap 29, não
são «por isso subsumíveis no disposto no artº 155º do RGICSF e no artº 2º
da Portaria nº 285-B/95 de 15.9.95, nem consequentemente, os saldos credores ou
créditos que destas operações de investimento tenham resultado para os investidores.
Por isso, não está o Fundo de Garantia de Depósitos, ora Réu, adstrito a reembolsar os Autores por valor superior ao que já reembolsou na sequência da relação de créditos que lhe foi enviada pelo B... em consonância com o disposto com o artº 17º nº1 do Regulamento do Fundo e do artº 167º nº7 do RGICSF (em vigor à data)».
Por isso, não está o Fundo de Garantia de Depósitos, ora Réu, adstrito a reembolsar os Autores por valor superior ao que já reembolsou na sequência da relação de créditos que lhe foi enviada pelo B... em consonância com o disposto com o artº 17º nº1 do Regulamento do Fundo e do artº 167º nº7 do RGICSF (em vigor à data)».
Ou seja, não se tratando de um depósito não há direito a indemnização a que alude o n.º 1 do artº 166º do RGICSF.
Ac. TRLisboa de
07/05/2015
Justo impedimento. Hospitalização. Advogado
Pode
o Advogado alegar o não acompanhamento de um processo por ter estado
hospitalizado?
Os
tribunais nestes casos têm decidido no sentido de que só a hospitalização não
basta para que se verifique o impedimento.
O
Justo impedimento está previsto no art. 140.º do CPC. Sendo considerado como: « o evento não imputável à parte nem aos seus representantes ou mandatários
que obste à prática atempada do acto.
E que nestes casos, prevê o seu n.º2 «A parte que alegar o justo impedimento
oferece logo a respetiva prova; o juiz, ouvida a parte contrária, admite o
requerente a praticar o ato fora do prazo se julgar verificado o impedimento e
reconhecer que a parte se apresentou a requerer logo que ele cessou».
São, pois, requisitos do justo impedimento:
São, pois, requisitos do justo impedimento:
a) O evento que provocou o impedimento deve referir-se à parte ou ao seu mandatário;
b) À parte ou seu mandatário não pode ser imputado dolo ou negligência
quanto à ocorrência do evento;
c) A parte deve invocar o justo impedimento logo que o mesmo cesse;
d) A parte deve praticar o ato processual em falta de imediato.
Para
ser invocado o justo impedimento é necessário que exista a impossibilidade
total e absoluta para cumprir com as obrigações profissionais, nomeadamente o
acompanhamento dos processos de que é mandatário.
É
o que acontece nos casos em que a situação de doença que culminar em
internamento seja súbita e de tal forma grave que impossibilite o advogado, em
termos absolutos de praticar os atos processuais a que está obrigado pelo
mandato, que mais não fosse o de subestabelecer.
Transcreve-se
parte do Ac. TR Porto de 01/06/2011: «as doenças dos mandatários judiciais só em
casos limite em que sejam manifesta e absolutamente impeditivas da prática de
determinado ato e, além disso, tenham sobrevindo de surpresa, inviabilizando
quaisquer disposições para se ultrapassar a dificuldade – v.g.
subestabelecimentos, com ou sem reserva, pedidos de substituição, solicitação de
adiamento – podem ser constitutivas de justo impedimento.
O instituto do justo impedimento visa desbloquear
situações de incumprimento forçado por circunstâncias insuperáveis, que seria
injusto desconsiderar, mas não deve, não pode, ir além disso».
Também
o Ac. do STJ de 27/05/2010, decidiu que: «justo impedimento do mandatário,
ou da parte, consiste na impossibilidade absoluta destes de praticarem o ato em
causa (art. 146.º, n.º 1, do CPC). O
atestado de doença que atesta a impossibilidade de exercício dos deveres
profissionais, sem esclarecer a gravidade do mal, ou desacompanhado de
outros meios de prova que demonstrem essa gravidade, não é suficiente para estabelecer o justo impedimento, uma vez que não
indicia que não pudesse ser encarregada outra pessoa de praticar o ato. A
mera entrega das conclusões de recurso pode ser efetuada por via informática
ou, na pior das hipóteses, por terceiro, pelo que a doença concretamente invocada apenas seria atendível se, se
demonstrasse que impedia o requerente de tomar as necessárias providências para
que outro praticasse por si o ato omitido. Logo, tendo o requerente
provado apenas a impossibilidade relativa de exercer a atividade processual que
tinha o ónus de praticar, deve ter-se por não verificado o (justo) impedimento”
sexta-feira, 19 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Conhecimento e partilha. Obrigado!
A escrita é um ato de partilha, pois de nada vale,
se esta não atingir o objetivo essencial – a troca de ideias em reflexo do
conhecimento.
Cognoscere – ato de conhecer que na acepção de Platão, não
era mais do que, saber de uma crença verdadeira e justificada.
Mas, não é de Platão que pretendo escrever, mas
sim, da comunicação que tenho mantido neste blog que me dá o privilegio de comunicar com imensas pessoas, que trazem
também os seus saberes, as suas dúvidas. Refiro-me ao Direito, nos seus vários
ramos.
Tem sido gratificante até pela a forma como essas
pessoas agradecem e qualificam este blog como – um serviço social e um dever de cidadania cumprido
da minha parte.
Este blog é o resultado de muito trabalho e de um
olhar atento da realidade que nos envolve.
A recetividade das pessoas é grande e sinto-me
acarinhada por elas, o que deixo agora, consciente do quanto já está em atrasado,
os meus agradecimentos a todos os que comigo têm comunicam e essencialmente aqueles que vão
fazendo referencia ao blog., em temas de seu interesse, em trabalhos, nomeadamente, em teses de mestrado.
O meu obrigado!
Finalizo com uma frase que gosto, de JOHN RUSKIN
: «A
maior recompensa pelo nosso trabalho não é o que nos pagam por ele, mas aquilo
em que ele nos transforma”
Criminalização da mutilação genital feminina - Nigéria
A
Nigéria aprova lei que criminaliza a mutilação genital feminina.
Segundo
dados vindos a público a Nigéria deu um “passo gigante” quando aprovou a lei
que tipifica como crime a mutilação genital feminina, tendo em consideração que
é um país em que esta pratica afeta 19.9 milhões de meninas e mulheres.
A
lei proíbe qualquer pratica que consubstancie a violência de género.
Passa-se
a ter assim elevada expectativa de que como consequência desta medida
legislativa que outros países com a mesma pratica proíba, também aqueles
comportamentos.
Espera-se
que este acontecimento histórico permita reduzir significativamente as
estimativas avançadas pela Unicef de que mais de 130 milhões de meninas em todo
o mundo sofreram algum tipo de MGF.
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