Autor Paolo Crepet nasceu em Itália é psiquiatra e sociólogo
Este livro analisa as grandes dificuldades que se verificam no crescimento do ser humano que levadas ao extremo podem conduzir ao suicídio. Um registo auxiliador, para todos aqueles que lidam com jovens.
Um livro com diversos exemplos práticos, que sob diversos pontos de vista estuda a ocorrência de situações extremas – o suicídio juvenil nos diversos países.
Publicado a já algum tempo, mas pela sua actualidade, deixo o registo de um trecho do Prefácio e em seguida uma pequena parte da Introdução.
I – Transcrição de um trecho do Prefácio
(…) Por um lado, fico orgulhoso que um ensaio sobre um tema difícil como o suicídio juvenil suscite ainda hoje, à distância de sete anos da sua primeira publicação, interesse aos leitores.
(…) Durante muito tempo, muitos profissionais do campo da saúde mental em conjunto com boa parte da opinião pública (suportada sobretudo por televisões e jornais) quiseram interpretar muitos sinais de crescimento dos nossos jovens como categorias específicas de sofrimento psíquico, oferecendo para estas classificações terapias específicas e locais programados segundo as necessidades. Foi o que aconteceu com a droga, com a bulimia e a anorexia, com as condutas auto destrutivas, com as novas formas de violência juvenil. O resultado foi nulo, nada mudou: todos os anos aparecem novos sinais de inquietude, continuam a construir redes de serviços cuja eficácia se ignora, é oferecido trabalho a técnicos que não sabem como e durante quanto tempo devem intervir.
(…)
Esta sociedade envelhece a olhos vistos e não só do ponto de vista do registo civil, mas sobretudo culturalmente. Um país sempre a braços com as pensões, um país onde não existe um bairro onde um rapaz ou uma rapariga possa viver e crescer, mas inúmeras micro-sociedades, um país isento de uma política séria sobre educação, tudo isto representa uma comunidade social a caminho do crepúsculo.
(…)
A clínica psiquiátrica mostra que um dos principais sintomas de depressão é a perda de esperança. Mas, quando não é apenas um único individuo a perdê-la, mas a sua comunidade de pertença, qual poderá ser o destino dessa mesma comunidade?
(…)
Quando estava a escrever este livro, tinha em mente as inúmeras histórias de jovens que tinham desistido de viver.
(…) Quem se apercebe da sensibilidade de um jovem que quer morrer? Quem na verdade pode afirmar que precisamos dele ou dela porque representam o nosso limiar crítico?
(…)
O suicídio de um jovem não nasce de grandes problemas, mas de pequenos abalos que passam inadvertidos, pequenas derrotas quotidianas que flutuam como pequenas manhas de petróleo no mar da indiferença dos adultos.
Se este livro fosse às mãos de um rapaz ou de uma rapariga, daqueles que olham como se ninguém nem nada tivesse já sentido na sua vida, se este livro pudesse, por um instante apenas, parar o seu projecto destrutivo, então este livro teria sentido.
Se este livro acabasse na carteira de uma mãe que ainda não suspeita de nada, no bolso do blusão de um pai distraído e demasiado ocupado e se fosse a oportunidade para se olharem nos olhos e se interrogarem “estará mesmo tudo bem?”, saltando por um momento só do comboio em andamento, para se questionarem sobre Maria, Giacomo, pelo seu mundo, pelas suas esperanças, pelos seus medos, então este livro teria cumprido a sua missão.
Uma coisa é certa: escrevê-lo foi útil para mim, permitiu que transferisse a minha inquietude e a minha insatisfação para estas palavras, na esperança de importunar algum adulto com as minhas dúvidas.
E, se alguém, ao folhar estas páginas conseguir sentir a emoção que as acompanha, então poderei dar-me por completamente satisfeito.
Janeiro de 2000
Mendigo, 1913, Segall
II – Transcrição de um trecho da Introdução
Há alguns meses, numa tarde abafada de início de Verão, deu-se um debate público sobre o suicídio.
(…)
Nunca como hoje, na nossa sociedade, a fronteira entre o conceito de vida e o de morte se esbateu tanto.
(…)
A conduta suicida tornou-se assim, segundo a assumpção de um diferente ponto de vista, um produto da mudança social, a explosão de uma anomalia comportamental ou o acto que esconde uma vulnerabilidade de carácter.
(…)
Se admitirmos que a conduta suicida não pode, em caso algum, encontrar uma compreensão exaustiva quando é reduzida a simples sintoma clínico de uma patologia psíquica, como se pode pensar que ela possa ser corrigida ou prevenida apenas pelo uso de um psico-fármaco? Será que um anti-depressivo ou uma descarga de choques eléctricos pode suavizar o desespero ou preencher uma existência vaga?
(…)
Porque é, então o suicídio na adolescência representa um dramático e crescente acontecimento social?
(…) O vazio aberto pela angústia de ter de crescer pode, para alguns, preencher-se gradualmente por substitutos existenciais que indicam uma precoce fadiga de viver. Numa existência que vai perdendo valor, crescem em significado as práticas e ideias de morte: a vida tende a tornar-se um complemento da sua própria conclusão, até que o tentar anular-se se torne numa paradoxal verificação: existo e, portanto, também me posso apagar suicidando-me. Este trabalho gravita precisamente em torno deste vazio. Não pretende explicá-lo assepticamente, mas invadi-lo para o impregnar e lhe descobrir o sentido e as dimensões.
Finalizo com as palavras no Corriere Mercantile, referente ao presente livro: «Acontece-me cada vez mais frequentemente encontrar jovens incapazes de responder positivamente à mais clássica das perguntas: - Que queres ser quando fores grande? – Não só não têm objectivos como não se preocupam com isso. Todos os fenómenos que, por vezes indirectamente, possam originar opções dramáticas sem possibilidades de regresso».
comprei este livro à cerca de uma ano. ainda não o li. O tema chamou-me à atenção e penso que será uma leitura bastante agradavél.
ResponderEliminarassim que o terminar de ler, virei dar a minha opinião.
Tenho a certeza de que é um livro interessante e com muitos ensinementos para nos alertar sobre estes acontecimentos.