Muitas viagens obrigam a um regresso ao passado, à história.
Tudo, como se fosse o Expresso do Oriente entre Paris e Istambul.
Foi aproximadamente a 130 anos que um luxuoso comboio fez ouvir a sua voz, na estação de Strasbourg. O momento foi histórico! Evento escrito em todos os jornais do mundo, dando vida ao Expresso do Oriente.A conjuntura social e económica fez parar as viagens sobre linhas, tendo sido actualmente retomadas, na Europa.
Mas num outro ponto do mundo, atravessar da Rússia Europeia à China, numa serpente de ferro, é um passeio magnífico.
Deixando a grande metrópole russa e embarcar no Grande Expresso Transiberiano é fazer uma das mais exóticas viagens sobre carris.
O início da viagem, numa ansiedade escondida (para os que a fazem pela primeira vez) deseja-se a chegada a Kremlin (Património da Humanidade em 2000), o mais depressa possível. Ao deixa-se torres e muros que nos dão a conhecer o século XVI, começa-se a interiorizar, a lentidão que este tipo de passeio exige, e a ansiedade de chegar substitui-se pela naturalidade de simplesmente apreciar.
A partida, tem como destino, - Urais. É em Ekaterinburg, fundada por Czar Pedro, o Grande, onde a linha salta da Europa para a Ásia.
Antes de entrarmos na Sibéria, o ponto de referência é a Catedral onde o Czar Nicolau II foi executado em 1918.
As linhas seguem por entre as montanhas de Urais, sem grandes sobressaltos, passando por diversas cidades. Chega-se a Novosibirsk, a maior cidade da Sibéria. Aqui, é o Museu de caminhos-de-ferro que transporta para o presente o passado do caminho de ferro do Transiberiano.
A viagem continua, com a vantagem de se passar a ter a possibilidade de poder partilhar as nossas admirações com os companheiros de viagem. O ambiente é propício para conhecer as pessoas, pois o objectivo é comum – conhecer de forma muito descontraída. O único obstáculo, sem dúvida, é a língua. (Quem dominar o inglês ou alemão tira maior partido da viagem), sem prejuízo da confusão mental que faz, a sucessão dos fusos horários.
Mas, independentemente destes obstáculos, o rio Yenisei a seguir para o Oceano Árctico, é visto de igual forma por todos.
Em Irkutsk as casas pitorescas construídas em madeira rendilhada dão as boas vindas.
Deixando Sibéria Oriental (cidade misteriosa) e seguindo o trilho da linha, deixa-se o cais repleto de vendedores para entre os bosques impenetráveis chegar ao Lago com a tonalidade azul, e o mais profundo do mundo, - Lago Baikal.
Este Lago no meio da cordilheira de montanhas é apreciado na mesma lentidão que o maquinista imprime à serpente. E, é nessa mesma lentidão, que se cruza a cultura do ocidente e do oriente, - Ulan Ude.
Já, na Capital da Mongólia, - Ulan Bator, percorre-se o conhecido - Alpes da Mongólia, área montanhosa com características impressionante. Aqui, o contacto com os povos nómadas atinge uma outra esfera da realidade. Uma realidade que não é a nossa!
Em direcção à fronteira com a China, atravessando o Deserto de Gobi, as imagens momentâneas que vão correndo, confundem-se com as memórias recentes – a vida no acampamento.
Entretanto, a agitação nas carruagens vai aumentando, na estação de Erlian, (agitação diferente daquela que assinalava a chega de cada estação, - a venda do imaginável ao som das vozes dos vendedores) em virtude do transbordo para o comboio chinês que permite finalizar a viagem - Pequim.
E, é dentro desta nova serpente de ferro, onde pessoas de todas as nacionalidades, de todas idades, e várias crenças fazem transparecer que se conhecem desde o século passado, se chega à cidade Proibida.
No final da viagem, chegados a casa, basta colocar num dos nossos recantos, o souvenir mais sumptuoso, que se adquiriu. Um degrau, - um degrau de vidro, por isso muito frágil. O degrau que nos aproxima um pouco mais à Tolerância.
Gostei.
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